sábado, 14 de agosto de 2010

TV CULTURA: DESMONTE É FRUTO DE IRRESPONSABILIDADE E DESPREZO PELO INTERESSE PÚBLICO


Nesta entrevista, que reproduzimos parcialmente, fica claro uma das questõaes que foram discutidas no nosso Encontro de Discussões Culturais do PT, em 29 e 30 de maio. Os tucanos empreenderam um processo de "privatização branca" em toda a estrutura da Secretaria de Cultura e entregaram, nas mãos das OSs (Organizações Sociais) a gestão dos equipamentos e a formulação das políticas culturais do Estado. Com a TV Cultura não foi diferente, só que a privatização se deu pelo controle do governo sobre o conselho curador da emissora, que passou a atender, não ao interesse da maior emissora da TV pública brasileira e nem aos interesses da população espectadora, e sim aos interesses privatistas do PSDB. Esse tipo de privatização é torpe e covarde, pois se dá à revelia da sociedade e por trás de uma aparente normalidade. São Paulo não pode continuar aceitando isso.

Brasilianas.org - A TV Cultura necessitava passar por um processo de reformulação nos moldes decididos recentemente pela Fundação Padre Anchieta reduzindo, por exemplo, o quadro de funcionários?Laurindo Lalo Leal Filho - A Fundação Padre Anchieta é um patrimônio da população do Estado de São Paulo, construído há várias décadas e que precisa ser preservado de qualquer maneira. A TV Cultura é, até hoje, o principal, o mais bem acabado modelo de TV Pública no Brasil. E ele – este modelo - não pode ser, de maneira alguma, destruído.
Eu tenho estudado a TV Cultura desde o seu início. Ela sempre passa por fases difíceis em função das ingerências de governos estaduais sobre a administração. E nós estamos vivendo outra vez esse tipo de problema.
O Conselho Curador, da Fundação Padre Anchieta, tem muito pouca autonomia em relação aos governos do estado e acaba sofrendo esse tipo de ingerência.

B - E, isso se deve à questão orçamentária...

Lalo - ... A questão financeira deve ser vista sobre a ótica de que é obrigação do Estado investir numa televisão pública de qualidade. Porque, no Brasil, a televisão tem um poder muito forte na educação, na cultura, na informação das pessoas. A maioria da população brasileira, e mesmo no estado de São Paulo, se informa e se entretêm através da televisão.

Então, a Televisão Cultura não pode ficar sob a lógica do mercado, de que ela deve ser superavitária, sob a lógica de que os seus investimentos devem ser cortados de acordo com as orientações do governo do estado. Ela tem que ter autonomia financeira, deveria ter um orçamento garantido pela legislação do estado de São Paulo. Um orçamento que dê conta das suas necessidades.

O que não pode acontecer é se tratar um serviço público de rádiofusão como se o mesmo pudesse funcionar sob a lógica do mercado. Não. Eu tenho que funcionar sob a lógica do investimento público.

Assim, como é fundamental o governo investir em saúde, em educação, ele tem que investir em televisão pública. E, nesse sentido, é importante que os recursos sejam, fundamentalmente, do estado. Claro que você pode ter outras fontes alternativas, mas elas, no caso brasileiro, devem ser complementares aos orçamentos do estado.

B - E quais seriam os instrumentos financeiros das TVs públicas?

Lalo - Acho que a TV pública pode até, no máximo, ser mantida com algum tipo de financiamento de apoios culturais. Nunca publicidade, porque a publicidade desvirtua o papel da TV pública. Ela joga a televisão no mesmo saco das televisões comerciais. E, aí, ela passa a disputar audiência para conseguir publicidade. Em consequência disso, tende a abaixar a qualidade da programação.
No máximo, uma fonte alternativa seria a dos apoios culturais. Ou seja, uma determinada empresa patrocina um programa e o nome dela aparece como patrocinadora. Acho que esse é o limite máximo que a gente pode fazer de concessão para uma TV pública receber um auxílio externo.
Mas acho que, majoritariamente, tem que ser investimento público. Mas, investimento público gerido não pelo estado, gerido pela sociedade através, no caso da TV Cultura, de um conselho curador autônomo, independente, e não subordinado ao estado.

Infelizmente a TV Cultura, nos últimos anos, o Conselho foi cada vez mais controlado pelo mesmo grupo político, e hoje ele se curva as decisões do governo estadual.
B- Então, como você disse, os Conselhos não mudam...
Lalo - As mudanças são feitas, mas sempre em torno do mesmo grupo político. Não é que são os mesmos, eles têm uma alternância. O problema é que esses membros são escolhidos pelo próprio Conselho. Os representantes da sociedade são escolhidos pelo próprio Conselho. E eles acabam escolhendo pessoas alinhadas sempre com o mesmo grupo político.

Então, isso faz com que esse Conselho não seja, efetivamente, representativo da sociedade paulista. E ele tem um diálogo muito restrito com a sociedade. A sociedade tem dificuldade de ter acesso a esse Conselho, de se manifestar....de levar suas demandas.

Na verdade, um conselho curador tem que ser o canal da sociedade para junto da emissora. Esse Conselho [da TV Cultura] é muito distante da sociedade.
 
Para ler a entrevista na íntegra acesse:
 

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/laurindo-lalo-leal-filho-sobre-a-tv-cultura

Um comentário:

  1. Esse é um dos problemas dos conselhos espalhados pelo país. Os representantes da sociedade são sempre aqueles "que são mais bonitinhos" aos olhos do "establishment" do momento. Os contrários, que certamente oxigenariam uma união com objetivo de que um bem público (como a TV Cultura) não pereça, são colocados de lado, como a cultura, de um modo geral, vem sendo colocada de lado a cada ano que passa. A cultura é uma registro artístico de seu tempo. Nunca existiu para dar lucro. A necessidade de obter receita para a cultura é a mesma necessidade de entender o homem e seu tempo. A não ser que estejamos engajados a nos tornar, daqui para a frente, nos mais brilhantes respresentates do homem do terciário ou quaternário.

    Pelo jeito, é o que parece ser o pensamento dos ilustríssimos membros do conselho da Fundação Padre Anchieta. É estarrecedor lidarmos, em pleno século XXI, com um cinismo de século XIX em relação à cultura.

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